"Nós artistas somos egoístas, vivemos numa bolha. Amamos tanto o que fazemos que acabamos excluindo todo o resto ao nosso redor...."
Gene Colan
Li esses dias essa frase no mural de um amigo no Facebook e lembrei que só tinha me ligado disso enquanto explicava para a sobrinha mais ou menos como funcionava as coisas na minha área.
Ao contrário de muitas profissões que (teoricamente) visam ajudar o próximo ou que contribuem para o bem estar ou evolução das pessoas, o pessoal que trabalha com arte pensa apenas na evolução e satisfação próprios. Podem dizer que observam o mundo, que inspiram os outros, que desperta sentimentos escondidos em alguns. Mas tudo isso não passa de consequência de um trabalho puramente egoísta. O artista não pensou que causaria isso e sim que estava fazendo um bom trabalho para mostrar aos outros, para se orgulhar.
É meio estranho dizer isso de uma profissão tão sensível, só que é assim que funciona: você estuda, treina, corre atrás porque quer ser melhor segundo os seus parâmetros. Se fosse para entreter os outros, não precisaria de tanto, é só ver alguns sucessos da criançada como a Galinha Pintadinha - que francamente, também não foi feita só para entreter, com certeza é caso pensado para lucrar horrores com vendas de produtos e shows. Nos lugares que trabalhei, nunca ouvi alguém dizer que estava fazendo aquilo com tanto esmero porque faria crianças felizes e sim porque estava se desenvolvendo muito mais fazendo tal tarefa. O roteiro tá ruim?Tudo bem, o que importa é fazer a minha parte e deixar tudo bonito.
Aliás, muito pelo contrário, ninguém curte fazer projeto dos outros. Trabalha ali porque precisa e porque pode aprender mais, se pudesse viveria de curtas de autoria própria.
Design às vezes cai no mesmo problema. Todo mundo quer aplicar o que viu nos livros, nos cases, na faculdade. Não interessa o que o cliente quer, afinal o que ele sabe? Sei que tem muito e muito cliente cretino que não sabe e não aceita nada, mas o que é que passa na cabeça do profissional? Que ele quer empurrar aquilo que ele sabe, o que ele acha melhor. A consequência é ajudar na comunicação visual. Bons designers são aqueles que pensam primeiro na necessidade, meio raro encontrar isso por aí.
Não é à toa que o maior problema em relacionamento interpessoal das agências e estúdios é o ego.
O negócio é tão centrado no umbigo que o cara entra de cabeça e não sossega nunca. Nunca tá satisfeito, sempre acha que pode melhorar. Acho que isso tem os dois lados, não acho que seja ruim se aprimorar, mas acho ruim que isso seja um objetivo único. Vejo muito nego bitolado nisso e esquecendo de coisas básicas como ter uma vida. Quando sai da bolha, só sabe falar da sua arte, se esquece dos interesses dos outros (eu entendendo o assunto já acho isso chato pra carai, imagina quem não é). E tem uns que a gente ouve falar que pira mesmo, que se isola do mundo e não quer saber de mais nada além de viver de arte.
Muitas vezes eu penso que, mesmo gostando muito de tudo, parei na área errada. Simplesmente não consigo ser assim e consequentemente não consigo ser muito boa em vários aspectos. Quando eu era mais nova, que foi quando eu me desenvolvi melhor, eu era muito mais isolada, não tinha muitos amigos, passava o dia todo no quarto torrando folhas e lápis. Hoje não consigo pensar em abrir mão do tempo que passo com a minha família, perdi uma coisa ou outra e já me arrependo demais. É tempo que não volta e não tem preço. Nem mesmo a arte vale tanto.
Não quero que ninguém deixe de gostar do que faz ou que eu ache todo mundo errado. Só acho que vale a pena parar um pouquinho para refletir e ver se há alguma coisa que no fim a pessoa queira mudar. Já ouvi gente rebater qualquer argumento que envolva isso como "então você não gosta o suficiente, deveria procurar outra coisa". Caramba, é tudo tão radical assim? Não tem espaço para outros interesses? Então eu realmente deveria procurar outra coisa!